Uma garota buscando seu rumo, seu destino. Uma família que tenta entrar nos eixos. Uma história com início, mas o fim... ainda buscamos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Capítulo 20 - Volta para Dows

Nick disse que desde sempre teve o desejo de ajudar as pessoas, dedicando á isso toda sua vida. Por isso ele escolhera entrar para a militância. O desejo se tornou mais real depois de um acampamento realizado por jovens combatentes, onde ele, calouro, sentiu ainda mais a necessidade de iniciar-se nessa carreira. Ele se especializou na área de investigação, aprendeu técnicas e truques para lidar com os mais variados tipos de pessoas. Realmente isso explicava a grande capacidade que ele tinha para ludibriar quem quer que fosse. E conforme ele ia contanto, eu lembrava-me de algumas horas atrás, quando ele estava comigo, á mesa. Lembrava-me de tudo que conversamos, será que ele foi realmente sincero no que disse, ou eu era apenas mais uma pessoa que ele tentava enganar para tirar informações suficientes para seu "novo caso". Pensar nessa possibilidade me deixou muito incomodada. Me ocorreu que talvez eu estivesse próxima demais de alguém que talvez não fosse tão amigável. Mas o que eu não conseguia entender, era porque o fato de ele querer me usar, ou talvez mentir pra mim, me deixava não só desconfortável, mas um tanto triste.
Deixei minhas conclusões para mais tarde e voltei a prestar atenção ao que Nick dizia. Ele foi comprar um café, e me ofereceu. Eu aceitei.
Quando ele saiu, eu fui até o banheiro, e vi o quanto me parecia com um zumbi, depois de tanto tempo sem dormir direito. Lavei o rosto e arrumei meus cabelos, procurei na mochila alguma coisa pra disfarçar minha olheiras. Fiquei imaginando a que conclusão chegavam as pessoas, ao me verem naquele estado. Eu ri sozinha.
Quando voltei, Nick já estava lá. O cheiro do café me atraiu.
"Sam, venha logo! O seu já está quase frio."
Sentei novamente.
"Beba logo, já estamos quase chegando. Você tem algum casaco mais quente? Ainda é madrugada e vai estar frio quando descermos do trem!"
"Não, nem pensei nisso quando coloquei as roupas na mochila!"
Ele, gentilmente, me deu seu casaco. Eu aceitei, sabia que se me opusesse ele me faria vestir a força. Preferi poupar esse esforço.
Me contentava saber que mamãe estava muito próxima agora. Eu a levaria dali de qualquer jeito, por mais que eu soubesse que era loucura deixar tudo para trás, a casa, todas as coisas que ela construiu, mas era impossível deixá-la ali. Pelo menos agora eu não teria que fazer isso sozinha.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Capítulo 19 - A União dos Fatos

Samantha, você lembra do bilhete que foi encontrado com Chris?”.
Claro, o bilhete! Foram tantos acontecimentos, que esse fato me passou batido!
“Nick, o que tinha lá?”. Ele puxou um pequeno papel amassado do bolso, e me entregou.
Dessa vez nós demos só um aviso. O dinheiro que pegamos de uma das cartas não paga nem o início da dívida daquele porco. Pensem bem, ou conseguem logo a grana, ou todos vão pagar pelas idiotices dele. Decidam...
Mas é claro, os donos do cassino! Por isso estavam tão bem vestidos naquela noite, por isso papai queria tanto dinheiro. Como pude deixar que isso tudo me escapasse!
Contei a Nick que eu conhecia um deles, e que sabia o porquê da cobrança da dívida. Nick disse que já imaginava. Nesse momento, senti um arrepio forte correndo pela minha espinha. Um aperto gigante no coração. Eu lembrei de mamãe lá, sozinha. Com certeza era á ela que eles iriam procurar agora.
“Sam, calma! Eu sei no que você pensou, mas tente ficar calma. Nós entramos em contato com a polícia de Dows e eles procuraram Caroline. Ela está bem, preocupada com os filhos é claro, mas está bem. Por isso eu não te impedi de fugir!”
Incrível, como tudo isso aconteceu, e eu não percebi nada!
Fiquei alguns minutos em silêncio, colocando os fatos em ordem, até que a curiosidade me fez questionar aquele policial.
“Nick, me conte sobre você! Eu já estou mais calma agora que você me falou de mamãe, mas me sinto confusa, como você conseguiu esconder tudo isso tão bem?”
Eu sempre pensei que pudesse ver nos olhos das pessoas seus sentimentos, suas verdadeiras emoções e pensamentos. Mas Nick conseguiu esconder tudo aquilo com tanta naturalidade, que eu já não sabia mais se poderia confiar nele.
Ele respirou fundo.
“Pois bem, agora é a minha vez não é?! Sam, eu percebi que você foi sincera comigo, então vou te contar tudo sobre mim. Vejo que não há motivos para esconder.!”
Ele então começou a falar da sua infância, me contou sobre seus anseios, sobre os sonhos que tinha. Eu ouvi tão atentamente a cada uma de suas palavras, que nem mesmo vi o tempo passar. Ele contava cada fato, cada detalhe e me deixava cada vez mais fascinada a cada vez que sorria. Havia algo diferente nele, e eu queria muito descobrir o que era!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Capítulo 18 - Desabafo

Eu já estava impaciente, eram 01h20min e Nick ainda estava parado lá. Esperei tanto tempo, nem sabia mais o que inventar para fazer. De repente ouvi ruídos vindos do rádio da viatura, Nick foi até lá e falou alguma coisa, voltou, deu uma última olhada para a janela, como se buscasse alguém. Entrou no carro e saiu. Essa era minha chance!
Desci as escadas ás pressas, e passei correndo pela porta dos fundos. Corri o mais rápido que pude em direção á estação, eu já conhecia o caminho, não era muito longe. Alguns instantes depois eu já estava cansada, então parei de correr, observei atentamente para me certificar de que ninguém tivesse me visto. Continuei andando, agora já estava perto da estação, eu compraria as passagens e pegaria o primeiro trem até Ames, logo estaria com mamãe, e essas dúvidas iriam acabar. Cheguei á estação, bastante vazia como era de se esperar. Não pude deixar de lembrar da cena horrível da noite anterior, tentei afastar esse pensamento. Subi no trem já com as passagens e me sentei sozinha. Minha mochila era pequena então coloquei-a no colo, comecei a pensar no que eu estava fazendo, o que será Tia Mad ia pensar, será que ela ia encontrar o bilhete colado em minha porta. E Alice, como iria se sentir sem nenhum de nós dois por perto, nós que sempre a protegemos, agora largamos ela sozinha em meio á esta tempestade de acontecimentos. Eu já estava quase perdida em meus pensamentos quando percebi que alguém sentou ao meu lado. Era Nick.
“Eu tinha certeza de que você queria fugir, só não conseguia imaginar o porquê! Mas teremos bastante tempo até chegar em Ames não é?!” Ele disse num tom divertido, nem parecia irritado pela minha fuga, mas sim, parecia bastante curioso. Eu não sabia o que pensar, acho que fiquei pálida.
Demorei um pouco para pensar no que dizer, e ele esperou pacientemente sem dizer uma palavra, parecia que ouvia meus pensamentos, era como se ele entendesse a minha confusão e soubesse que eu precisava de um tempo pra reorganizar as ideias. Resolvi então que ele deveria saber exatamente a verdade. O trem começou a andar, e eu então comecei a contar á ele tudo, desde o início. Contei o porquê de nossa saída de Ames, e também lhe falei sobre as cartas que nunca chegaram. Disse á ele que conhecia um dos homens daquela noite, ele ficou bastante espantado, e demonstrou ter tirado as mesmas conclusões que eu á respeito do envolvimento de papai nessa confusão. Contei á ele um pouco da minha infância e dos meus irmãos, pra que ele entendesse o quanto nossa família havia tentado se reerguer, infelizmente sem sucesso. Acabei contando sobre mim, meus sonhos, minhas frustrações tanto com a família quanto com os garotos. Não sei como ele conseguiu que eu falasse tudo aquilo, sem nem se esforçar. As palavras e as histórias iam saindo de minha boca como se eu visse nele um confidente, eu sentia como se pudesse ter certeza de que deveria confiar nele. Talvez eu estivesse mesmo precisando de alguém pra conversar, e Nick estava sendo um excelente ouvinte.

Capítulo 17 - Jantar

Quando entrei, Tia Mad estava na cozinha. Ela me olhou com um sorriso no canto da boca, como se soubesse de algo a meu respeito. Eu respondi seu olhar com indagação, ela então se virou e continuou preparando o jantar. Fui até meu quarto, e deixei tudo preparado, sentei-me na escrivaninha, peguei um pedaço de papel e escrevi um bilhete carinhoso á Titia, para que ela não pensasse que eu fui sequestrada ou algo assim. Com certeza ela teria a mesma imaginação de mamãe! Deixei o bilhete em baixo de meu travesseiro, depois escolheria um lugar melhor.
Desci, e fui ajudá-la. Disse que havia conversado com o policial Nick, contei sobre a tarde toda, e comentei que o havia convidado para jantar. Ela me olhou e sorriu.
“Muito bem, parece que temos alguém aqui que está apaixonada!” Aquilo me fez corar, eu sentia meu rosto vermelho.
“É claro que não, eu só quis ser gentil, imaginei o quanto deveria ser entediante passar o dia ali, olhando. Vigiando algo, prestando atenção em qualquer coisa, em uma ameaça que nem sabemos se existe.”
Titia percebeu o quanto fiquei incomodada, e tentou não tocar no assunto, mas eu podia sentir seus risinhos abafados. Eu me prendia ao pensamento de que tudo era pela mamãe.
Depois de pôr a mesa, com um prato á mais, Tia Mad me pediu para chamá-lo. Eu me senti extremamente envergonhada, mas fui, como se nada estivesse acontecendo.
“Nick, o jantar está pronto, gostaria de se juntar á nós?” perguntei tentando ser simpática, e segurando a vontade de sair correndo. Ele abriu seu lindo sorriso, e acenando a cabeça aceitou meu convite.
Entramos, e eu o apontei um lugar á mesa. Ele se sentou, eu percebi que estava um pouco envergonhado- muito compreensível. Alice e Tia Mad sentaram-se de modo que fui obrigada á ficar ao lado de Nick. Eu sabia que da parte de Alice não havia sido intencional, mas Titia sim.
Aos poucos o clima tenso foi se perdendo. Tia Mad, sempre carinhosa, começou a puxar alguns assuntos e logo a conversa estava animada. Quando acabamos o jantar eu me dirigi á cozinha com a louça, e Nick se ofereceu para me ajudar, em troca do jantar maravilhoso, segundo ele. Nick não tinha ideia do que estava fazendo, Tia Mad prontamente aceitou pro mim. Ela e Alice foram para a sala e nos deixaram lavando os pratos. Eu admito, Nick era bonito, mas eu não conseguia pensar em mais nada nesse momento á não ser ir até mamãe trazê-la de volta. Eu nunca fui muito aberta com garotos, na verdade eu nunca tive um namorado. Eu sempre fui considerada rebelde, e isso afastava os “bons partidos”. Mamãe sempre me disse que um dia eu ia encontrar alguém que fizesse meu coração bater mais forte, e minhas mãos suarem frio. Um dia perguntei á ela se sentia isso com o papai, ela saiu chorando e nunca me respondeu.
Nick e eu conversamos pouco, rimos de algumas coisas. Ele era bastante atrapalhado com a louça, era engraçado. Quando acabamos ele se despediu, e voltou ao seu posto perto da varanda. Sentei-me no sofá, de frente para a janela. Eu podia vê-lo, andava de um lado para o outro. Como já estava tarde, não passava ninguém na rua, o que significava que ele não teria a quem observar. Alice me deu boa noite, ela já parecia melhor, logo depois Tia Mad também subiu e resmungou alguma coisa como território livre, eu fingi que não tinha escutado. Continuei observando Nick, percebi que ás vezes ele olhava pela janela, mas ele não podia me ver por causa da cortina, eu mesma só via sua silhueta se movendo de um lado para outro, e percebia os movimentos de sua cabeça olhando pra dentro da casa. Subi até meu quarto, pensando sobre o que Tia Mad havia me dito á respeito de Nick. Isso era loucura.

Capítulo 16 - Rota de Fuga

Ofereci um café á Alice, ela não falou, só balançou a cabeça em sinal negativo. Subi as escadas lentamente pensando em mamãe, e em como eu estava realmente desesperada para vê-la!
Organizei algumas roupas em uma mochila pequena, ainda me restava um pouco de dinheiro, acho que seria o suficiente pra ir até mamãe, e suprir algumas necessidades. Agora eu precisava descobrir sutilmente qual seria o horário da próxima troca de policiais.
Quando saí do quarto, percebi que Alice estava no banho. Tia Mad continuava dormindo, desci as escadas e fui até a cozinha, peguei alguns biscoitos e servi outra xícara de café, coloquei em uma bandeja e fui até a varanda. O policial me cumprimentou, e se apresentou como Nick Cohen, ele era alto, tinha olhos claros em um tom de verde. Seus cabelos eram bem escuros e contrastavam com sua pele branca. Eu ofereci o lanche, ele sorriu e aceitou, seu sorriso era lindo. Me apresentei, e nós nos sentamos na escada. Perguntei á ele o que fazia para passar o tempo completamente sozinho.
“Eu fico observando as pessoas que passam, fico imaginando o que se passa na mente delas. Cada uma tem sua história, seus problemas, suas alegrias, e talvez suas paixões escondidas.” Nós rimos.
Conversamos por bastante tempo. Eu perguntei á ele quando viria o policial para o interrogatório de hoje, e ele me disse que já não seria mais necessário ao menos por enquanto. Aproveitei o assunto e perguntei quando ele trocaria de turno com o colega.
“Eu acho que pela madrugada, próximo á uma talvez! Mas por que você quer saber?” Ele desconfiou.
“Por nada, só achei que talvez fosse gentil da minha parte oferecer algo para o jantar!”
Ele sorriu novamente, eu sorri com ele. Encontrei minha rota de fuga.

Capítulo 15 - Lembranças

O policial saiu dizendo que viria novamente pela tarde, para novas perguntas. Já estava quase amanhecendo, eu não dormia direito a bastante tempo, e já estava sentindo isso. Tia Mad e eu tomamos uma xícara de chá, eu fui até meu quarto, e simplesmente desabei na cama. Apaguei na mesma hora, um sono profundo e sem sonhos.
Acordei me sentindo bem, bastante descansada. Tive de parar um pouco, e pensar se tudo aquilo realmente havia acontecido. Olhei no relógio e percebi que já passavam das duas da tarde, lembrei-me do policial que viria.
Tomei um banho rápido, e fui até a cozinha, Tia Mad estava dormindo ainda, e Alice estava sentada no sofá vendo televisão. A notícia do incidente passava em todos os canais. Percebi que ela não estava ouvindo nada, estava longe, creio que, mesmo sem saber de todos os fatos, Alice sentia que papai poderia estar metido nisso. Comecei a preparar um café, e lembrei de mim mesma, á dois anos atrás, quando tinha a idade atual de Alice. Meus sonhos eram diferentes, as esperanças também. Tudo que eu mais queria era ver papai e mamãe bem, como uma família feliz. Lembro-me da minha primeira briga na escola por causa de papai. Uma menina o havia visto bêbado pelas ruas em plena tarde de sábado, e quando chegou á escola, na segunda-feira, jogava constantes indiretos á respeito dele, todas direcionadas á mim, claro. Recordo-me de ter ficado extremamente furiosa com tudo aquilo, e o que mais me deixava com raiva era saber que nada daquilo era mentira. Realmente, meu pai era um canalha! Em um dado momento, eu simplesmente não aguentei as provocações, eu fui até ela. Começamos um bate boca, logo haviam vários alunos á nossa volta. Durante muito tempo, Chris havia me ensinado a brigar, provavelmente ele sabia que um dia eu iria precisar- posso apostar que ele pensava em papai. Não pude resistir á tentação, fechei a mão e dei-lhe um soco, tão forte que senti meus dedos doerem. Ela caiu, e ficou no chão, senti uma vontade imensa de pular nela, e repetir o ato várias vezes, seria minha vingança. Mas eu percebi que não estaria me vingando dela, eu estaria me vingando de papai. Na mesma hora, eu parei, e percebi quem era meu pai. Daquele dia em diante eu percebi que nunca haveria uma família feliz, enquanto papai estivesse nela!
Voltei de meus pensamentos, percebi que o café já estava pronto na cafeteira, Alice continuava exatamente como antes. Olhei pela janela, e vi dois policiais. Eles se cumprimentaram, um deles- que já estava ali desde a madrugada- entrou no carro e saiu, e o outro ficou em seu lugar. Encontrei naquele nicho a minha única chance.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Capítulo 14 - Interrogatório

Alguns instantes depois Tia Mad já estava ao meu lado, dois policiais nos levaram até em casa e prometeram voltar depois para fazer um interrogatório. Contei á ela tudo que eu havia constatado na ambulância. Ela ficou apavorada, mas acreditava assim como eu, que papai devia estar envolvido nisso. Alice estava em estado de choque, e por mais que tentássemos acalmá-la, ela não parava de chorar. Tia Mad deu um calmante á ela, e ainda demorou muito até que dormisse.
Titia ligou para o hospital, perguntando como Chris estava. Parecia que ele estava bem, e ia sair logo. Segundo os policiais, os homens que eu vi na estação haviam levado Chris á uma rua deserta, e o agrediram. Saíram, e deixaram-no jogado na calçada com um bilhete. A moça do hospital disse a Tia Mad que os policiais haviam saído dali a pouco tempo, e que viriam pra cá, trazendo o bilhete, e também para fazer algumas perguntas. Ela perguntou também por Tio Ben, a moça disse que ele estava sob efeito de sedativos, por causa da dor, mas ia se recuperar. Demoraria um pouco mais do que Chris para ter alta, mas seu estado já era estável.
Falei a Titia que eu precisava ir até a casa da mamãe e descobrir afinal o que estava acontecendo. Eu só precisava saber o que aconteceu com as cartas, e porque aquele amigo do papai tinha feito isso com Chris.
Tia Mad imediatamente se posicionou contra. Depois do que aconteceu ela me proibiu terminantemente de sair de casa por tempo indeterminado. Isso atrapalharia muito meus planos, vi que talvez essa fosse a hora de pôr em prática algumas coisas que mamãe não havia me ensinado, mas que eu aprendi depois de algum tempo convivendo com papai. Mas meus planos precisavam mesmo esperar, os policiais estavam tocando a campainha.
Eles entraram, e Tia Mad os ofereceu café e biscoitos, bastante acolhedora como sempre. Sentaram-se no sofá, a nossa frente e começaram a perguntar muitas coisas. Tia Mad me pediu que contasse á eles com detalhes tudo que havia acontecido na noite anterior á nossa viajem, e também tudo que havia constatado sobre os homens da estação. Não disse á eles sobre meus planos de ir até mamãe, e Titia também não tocou no assunto. Eles recomendaram que nenhuma de nós saísse de casa, e deixaram um policial á nossa disposição, para o caso de precisarmos de alguma coisa.
Realmente, seria bem difícil sair de casa sem que Tia Mad, nem o policial me vissem. Mas eu precisava fazer isso o quanto antes.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Capítulo 13 - Fatos

Uma luz muito forte batia no meu rosto, eu conseguia perceber, mesmo de olhos fechados. Depois de muito esforço consegui abri-los.
“Ela está bem, não há nada de errado. Trate de cuidar daquele senhor. Foi apenas de raspão, mas temos que nos certificar.”
Outra voz, um pouco mais baixa, acho que estava mais longe dizia algo sobre um rapaz desaparecido.
“O que está acontecendo? Onde estão Chris e Tio Ben?” Minhas palavras saíam enroladas, parecia que não faziam muito sentido.
“Calma garota, todos estão bem! Aquele senhor é seu tio?”
Um homem falava comigo, um completo estranho me fazendo perguntas, muitas pessoas se movimentando atrás dele. Então eu só podia constatar que aquilo tudo era real, o tiro, e os homens levando Chris, não foi um sonho.
“Sim, ele é meu Tio! Como ele está? E Chris, ele é meu irmão, o que aconteceu com ele?”
O homem me pedia calma. Ele se apresentou como policial Steve Jordan, disse que Tio Ben estava ferido, mas só de raspão, a bala havia atingido uma de suas costelas. Steve disse que segundo algumas pessoas que viram, três homens levaram Chris para um carro preto, e saíram em disparada.
“Jordan, encontraram! Está ferido, mas vivo! Estamos indo até lá!”. Gritou um policial correndo até a viatura junto com outros dois.
“Escute garota, Samantha não é! Eles saíram para buscar seu irmão, parece que ele está bem, então fique aqui e tente se acalmar.”
Steve saiu, eu fiquei sentada. Eu estava dentro de uma ambulância, em cima de uma maca. Eu tentava entender tudo que estava acontecendo, e de repente me veio uma luz. Eu conhecia um daqueles homens, era amigo de papai. Eles iam juntos á um casino numa cidade próxima á Ames. Eu precisava contar isso aos policiais. Eu sabia, papai não ia deixar barato o que aconteceu naquela noite.
Minha cabeça ainda girava, eu precisava me concentrar, unir os fatos e descobrir logo o que estava acontecendo. Será que o sumiço das cartas estava ligado á isso. A única forma de descobrir era indo até mamãe, o mais rápido possível.

Capítulo 12 - O Desespero

Tio Ben abriu a porta e sentou-se a nossa frente no sofá.
Ok crianças, vamos para a nova aventura de vocês! A nave está pronta!”. Algumas risadas tímidas seguiram a piada de Tio Ben, ele bem que tentou disfarçar a tensão, mas ela estava no ar. Era tão forte que quase chegava a ser palpável.
Entramos no carro, já estava ligado. Uma leve nuvem de sereno cobria a noite. Saímos pela estrada, não havia absolutamente ninguém na rua, provavelmente a estação também estaria quase vazia. Ao dobrarmos em uma esquina, já próximos á estação, percebi um carro escuro logo atrás. Eu não conheço muito sobre carros, mas aquele parecia ser bem caro. Não se via nada através dos vidros, e a noite escura também não ajudava.
Chegamos á estação e, como eu previa, pouquíssimas pessoas estavam lá, a maior parte já estava dentro do trem. Descemos do carro e pegamos a bagagem. Chris olhou em volta com uma ruga de preocupação na testa, parecia que ele sentia o mesmo que eu, um pouco de alegria, misturado com o medo de sempre.
Ele pediu que eu entrasse no trem, disse que logo entraria, só iria terminar de descarregar as bagagens junto com Tio Ben. Eu dei um abraço nele e fui me despedir do Tio, abracei-o fortemente, ele correspondeu.
“Nos deseje sorte, vamos precisar. Sinto que não será fácil tirar mamãe de lá.”, pedi á ele.
“Claro minha querida, boa sorte. Use de todos os seus encantos e truques para convencer Caroline, ela sempre cede aos encantos dos filhos não é mesmo!” Tio Ben sempre espirituoso.
Eu subi, e me sentei perto de uma janela, pela qual podia ver Chris colocando as malas no trem.
Ouvi um barulho muito forte, Chris se levantou para olhar pra trás. O fiscal do trem correu para dentro, e as portas do trem se fecharam. Uma agitação começou, as poucas pessoas que estavam ali, gritavam e corriam apavoradas. Tio Ben estava caído no chão, havia sangue em volta dele. Chris correu até o local, se ajoelhou ao seu lado.
Eu queria descer, eu estava em pânico. O fiscal me segurou com força. Meu Deus eu precisava ir até lá!
De repente um homem de casaco preto veio até Chris, logo atrás dele outros dois, igualmente bem vestidos com ternos pretos trataram de pegar Chris pelos braços e o levaram até o carro preto que nos segui á pouco tempo atrás pelas ruas da cidade. O que eu poderia fazer agora?
Meu desespero tomou conta de mim, percebi que a voz do fiscal ficava cada vez mais distante, as coisas pareciam confusas, eu não via mais nada. O que estava acontecendo comigo...